quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Teoria do Culturalismo - Margaret Mead e a Transmissão cultural

A Teoria do Culturalismo surge com Ruth Benedict, Ralph Linton, Abram Kardiner e Margaret Mead (1901-1978), cujo trabalho é relevante nesta introdução à teoria. Margaret Mead aprofunda o seu trabalho principalmente quando decide orientar as suas investigações para a maneira como um indivíduo recebe a cultura e  as consequências que isso acarreta na formação da sua personalidade.
É portanto,o processo de transmissão cultural e de socialização da personalidade que Margaret Mead decide colocar no centro das suas reflecções e dos seus trabalhos.O seu objectivo seria analisar diferentes modelos de educação tentando compreender o fenómeno da inscrição da cultura no indivíduo e explicar aspectos dominantes da personalidade devidos ao mesmo processo de inscrição. A sua investigação conduziu-a à Oceânia, a três sociedades na Nova Guiné ( os Arapesh, os Mundugomor eos Cambuli). Através dos casos estudados mostra que as pretensas personalidades masculina e feminina que se têm por universais, porque consideradas de origem biológica, não existem conforme as imaginamos em todas as sociedades. Mais ainda, certas sociedades têm um sistema cultural de educação que não se consagra a opor os rapazes e as raparigas no plano das personalidade.
Entre os Arapesh, tudo parece organizado na pequena infância para fazer com que o futuro Arapesh, homem ou mulher, seja um ser delicado, sensível,prestável, enquanto que, entre os Mundugomor , a consequência do sistema de educação é antes suscitar a rivalidade, e até mesmo a agressividade, tanto que entre os homens como entre as mulheres, e ainda nos dois sexos.
Na primeira sociedade, as crianças são acarinhadas sem distinção de sexo; na segunda, são duramente educadas, porque são filhos não desejados, sejam rapazes ou raparigas.
As duas sociedades produzem, através dos seus métodos culturais, dois tipos de personalidade completamente opostos. Em contrapartida, têm um ponto em comum: não distinguindo entre "psicologia feminina" e "psicologia masculina", não engendram personalidade especificamente masculina ou femenina. Segundo a concepção habitual na nossa sociedade, o Arapesh, homem ou mulher, parece-nos dotado de uma personalidade predominantemente feminina, e o ou a Mundugomor de uma personalidade predominantemente masculina, ainda que apresentar factos nestes termos não passe de um contra-senso.
Inversamente, os Chambuli, o terceiro grupo, pensam como nós que homens e mulheres são profundamente diferentes na sua psicologia. Mas, ao contrário de nós, estão persuadidos de que a mulher é, por " natureza" , empreendedora, dinâmica, solidária com os membros do seu sexo, extrovertida; e que o homem è, em contrapartida, sensível, menos seguro de si, muito preocupado com a sua aparência, tendente a invejar os seus semelhantes. É que, entre os Chambuli, são as mulheres que detêm o poder económico e que asseguram o essencial da subsistência do grupo, ao passo que os homens se consagram a sobretudo a actividades cerimoniais e estéticas, que os põem muitas vezes em competição uns com os outros.
Assim, a personalidade individual não se explica por caracteres biológicos ( por exemplo e neste caso, o sexo), mas pelo "modelo" cultural particular de uma dada sociedade que determina a educação da criança. Desde os primeiros instantes de vida, o modelo impregna o indivíduo, através de todo o sistema de estímulos e de interditos, formulados ou não explicitamente, o que o leva, uma vez adulto, a obedecer de modo inconsciente aos princípios fundamentais da cultura. Foi a este processo que os antropólogos deram o nome de "inculturação" . A estrutura da personalidade adulta, resultante da transmissão da cultura através da educação , será em princípio adaptada ao modelo da cultura em causa. A anomalia psicológica, presente e estigmatizada em qualquer sociedade, explica-se do mesmo modo, não em termos absolutos (universais) mas em termos relativos, como sendo a consequência de  uma inadaptação do indivíduo dito "anormal" à orientação fundamental da sua cultura ( por exemplo, o Arapesh egocêntrico e agressivo ou o Mundugomor delicado e altruìsta). Existe, portanto , uma ligação estreita entre modelo cultural , método de educação e tipo de personalidade dominante.        
Por Beatriz 

9 comentários: