domingo, 28 de novembro de 2010

Teoria da Cultura segundo a Ontognoseologia (Parte II)


Ao dizer que o valor fundamental é o da pessoa humana, esse valor dará sentido à existência dos outros valores, que se subdividem em:
- Verdadeiro e que diz respeito à ontognoseologia;
- O valor do Belo que está ligado às artes e à Estética;
- O valor do Útil, que diz respeito à Economia, Comércio, Agronomia e Indústria e da manutenção da vida;
- O valor do Bem que comporta as questões relativas à Ética, à conduta humana e a moral.

Os valores são constituintes dos bens culturais. A cultura possui assim bens culturais e tais bens, realizados e construídos pela espécie humana, são de ordem não natural. Constitui todo o tipo de ciência um bem cultural. As ciências da Natureza são um bem cultural assim como as ciências da cultura o são. Mas observamos diferenças entre uma ciência natural e uma ciência cultural. Na primeira a finalidade é explicar os fenómenos naturais e noutra os culturais. Nesse sentido teremos um modo relacional objectivo de formação de leis culturais totalmente diferentes da formação de uma lei natural. Quando realizamos uma ciência cultural realizamos algo sobre nós mesmos como tentativa de auto compreensão.
                No dever ser o homem supera o simples ser da ciência natural. No espírito encontramos a liberdade e a capacidade de síntese e uma constante transcendência para ale do dado imediato. Agir para o homem envolve muito mais do que uma sequência imediata de factos, mas sim uma previsão do futuro. Se o homem age é porque tudo já foi planeada na sua cabeça e uma acção é a actualização de uma possibilidade pensada. Segue-se que a conduta humana é imprevisível visto que é um elemento que depende de um entrelaçamento de valores e bens culturais. Assim, nas ciências humanas temos factos como nas ciências naturais e neles procuramos realizar um nexo causal, sendo que as leis estabelecem uma conexão de sentido, baseada num suporte axiológico. Tudo o que acontece na natureza está fora do nosso alcance e o seu sistema de interpretação é inconsistente. No caso das ciências humanas, estas pressupõem uma ordem social que se organiza segundo o mundo moral. Ou seja, as leis baseadas no sentido são leis de carácter compreensivo e normativo, utilizadas pelo direito e pela moral, que se forem desrespeitadas pelo indivíduo podem fazer com que este sofra sanções pelo seu desrespeito pela justiça (ligada ao valor do bem e da ética). As leis e normas de conduta que mantenham o bem devem respeitar tanto o indivíduo como pessoa quanto o grupo de indivíduos que pretende regular, numa compreensão histórico-social conjugada com a época.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A Cultura numa perspectiva Antropológica (Parte II)

Então, após todas estas explicações, em que consiste ao certo o conceito de Cultura?
 Na perspectiva do antropólogo britânico Edward Tylor,(considerado o pai do conceito moderno de Cultura):
 
Cultura é “o todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro de uma sociedade”.
In Primitive Culture (1871)

Há que referir que Tylor foi o primeiro a formular o conceito de cultura do ponto de vista antropológico, ainda em vigor. Na verdade, ele apenas formalizou uma ideia que vinha a crescer desde o Iluminismo. Já John Locke (filósofo britânico e fundador da ideologia liberal), em 1690, afirmava que a mente humana era “uma caixa vazia no nascimento, dotada de capacidade ilimitada de obter conhecimento”, conceito que hoje designamos por endoculturação (processo permanente de aprendizagem de uma cultura por um indivíduo).

Taylor enfatizou, portanto, a ideia da aprendizagem na sua definição de cultura:
o Homem é, por natureza, um animal “versátil” que, munindo-se de instrumentos como a Cultura, conseguiu compensar o seu contínuo processo de inacabamento, do ponto de vista biológico, com uma grande complexificação cerebral. Isto permitiu-lhe sobreviver através dos tempos, ainda que com um equipamento biológico relativamente simples.
Atentemos no seguinte exemplo:
Um esquimó que deseje morar num país tropical, adapta-se rapidamente; substitui o igloo e os seus grossos casacos por um apartamento refrigerado e roupas leves, enquanto o urso polar não pode adaptar-se fora do seu ambiente.
Logo, verifica-se que a Cultura surgiu da necessidade de adaptação do Homem aos diferentes ambientes. Em vez de nascer geneticamente predisposto para se adequar somente a um determinado local, como os restantes animais, o Homem recorre não só, mas também, a elementos epigenéticos. Por exemplo, a baleia perdeu os membros e os pêlos e adquiriu barbatanas para se adaptar ao meio marítimo. Enquanto a baleia teve que transformar-se ela mesma num “barco”, o homem utiliza um equipamento exterior ao corpo para navegar.
Além disso, a Cultura trata-se um processo acumulativo: o Homem recebe conhecimentos e experiências “acumulados” ao longo das gerações que o antecederam e, se estas informações forem adequada e criativamente manipuladas, permitirão inovações e invenções.
Assim, estas não são o resultado da acção isolada de um indivíduo, mas o esforço de toda uma comunidade.
Roger Keesing, antropólogo, no seu artigo Theories of Culture (1974), define Cultura de acordo com duas correntes:


 As teorias que consideram a cultura como um sistema adaptativo: culturas são padrões de comportamento socialmente transmitidos que servem para adaptar as comunidades humanas ao seu modo de vida (tecnologias, modo de organização económica, padrões de agrupamento social, organização política, crenças, práticas religiosas, etc.)
 

 As teorias idealistas da cultura são divididas em três abordagens:
     
A primeira considera cultura como sistema cognitivo ("consiste em tudo aquilo que alguém tem de conhecer ou acreditar para operar de maneira aceitável dentro da sociedade").

A segunda abordagem considera cultura como sistemas estruturais ("um sistema simbólico que é a criação acumulativa da mente humana). O seu trabalho tem sido o de descobrir na estruturação dos domínios culturais – mito, arte, parentesco e linguagem – os princípios da mente que geram essas elaborações culturais.

A terceira abordagem considera cultura como sistemas simbólicos (é um sistema de símbolos e significados partilhados pelos membros dessa cultura que compreende regras sobre relações e modos de comportamento).
No fundo, a Cultura é uma lente através da qual o homem vê o mundo - pessoas de culturas diferentes usam lentes diferentes e, portanto, têm visões distintas da realidade.
Além disso, este facto tem como consequência a propensão para considerar o seu modo de vida como o mais correcto e o mais natural (etnocentrismo), depreciando o comportamento daqueles que agem fora dos padrões da sua comunidade.
Comportamentos etnocêntricos resultam, geralmente, em apreciações negativas dos padrões culturais de povos diferentes, onde as práticas de outros sistemas culturais são vistas como absurdas.
Mas ainda assim, o etnocentrismo é um “comportamento universal”, na medida em que é comum a crença de que a nossa própria sociedade é a mais correcta.
 
Em oposição ao etnocentrismo, surge a apatia. Em lugar do “prestar culto” dos valores da sua própria sociedade, num momento de crise os indivíduos abandonam a crença naquela Cultura e perdem a motivação que os mantém unidos.
Por exemplo, os africanos, quando foram trazidos como escravos para uma terra estranha, com costumes e línguas diferentes, perdiam a motivação de continuar vivos e muitos praticavam suicídio.
É importante frisar que, embora nenhum indivíduo conheça totalmente o seu sistema cultural, é necessário que o indivíduo tenha um mínimo de conhecimento da sua cultura para conviver com os outros membros da sociedade. Nenhum indivíduo é perfeitamente “socializado”, mas é nesta imperfeição que reside a grande força transformadora de um sistema cultural, que está em contínuo processo de mudança.

A mudança cultural subdivide-se em dois tipos: interna (resulta da dinâmica do próprio sistema cultural e, é lenta; porém, o ritmo pode ser alterado por eventos históricos, como uma catástrofe ou uma grande inovação tecnológica) e externa (é o resultado do contacto de um sistema cultural com outro; esta é mais rápida e brusca).
Em suma, o tempo é um elemento a ter em conta aquando da análise do conceito de Cultura e, da mesma forma que é importante para a Humanidade a compreensão das diferenças entre os povos de culturas diferentes, é necessário entender as diferenças que ocorrem dentro do mesmo sistema, considerando factores como hereditariedade, espaço, tempo e, o mais substancial de todos, a capacidade de mudança.


Por Helena (Com base na obra Cultura, um conceito Antropológico, de Roque de Barros Laraia)

A Cultura numa perspectiva Antropológica (Parte I)

Desde a Antiguidade que, o ser humano, tem revelado a necessidade de encontrar uma explicação para as suas diferenças, a nível do comportamento e atitudes, tomando, portanto, como referência as diversidades genéticas e geográficas.



      Numa primeira abordagem, alguns estudos verificaram que:
1- As características biológicas não são determinantes das diferenças culturais: por exemplo, se uma criança brasileira for criada na França, ela crescerá como uma francesa, aprendendo a língua, os hábitos, crenças e valores dos franceses. Podemos citar, ainda, o facto de muitas actividades que são atribuídas às mulheres numa cultura são responsabilidade dos homens noutra.

2- O ambiente físico também não explica a diversidade cultural. Por exemplo, os lapões e os esquimós vivem em ambientes muito semelhantes – os lapões habitam o norte da Europa e os esquimós o norte da América. Era de se esperar que eles tivessem comportamentos semelhantes, mas os seus estilos de vida são bem diferentes.
 Os esquimós constroem os igloos amontoando blocos de gelo num formato de colmeia e forram a casa por dentro com peles de animais. Com a ajuda do fogo, eles conseguem manter o interior da casa aquecido. Quando muda de local, o esquimó abandona a casa levando apenas os seus pertences e constrói um novo igloo.
Já os lapões vivem em tendas de peles de rena. Quando desejam mudar-se, eles desmontam o acampamento, secam as peles e transportam tudo para o novo local. Além disso, enquanto os lapões se dedicam à criação de renas, os esquimós apenas caçam renas.

Outro exemplo são as tribos de índios que habitam uma mesma área florestal e têm modos de vida bem diferentes: algumas são amigáveis, enquanto outras são ferozes; algumas alimentam-se de vegetais e sementes, outras caçam; têm rituais diferentes, entre outros…
Verificando-se que a primeira abordagem não gerava soluções explicativas da diferença cultural, surge uma segunda abordagem que visa a interacção social como a verdadeira explanação do problema:

3- O comportamento dos indivíduos depende, então, de um conjunto de aprendizagens, cujo processo se designa por socialização. Pessoas de “raças” ou sexos diferentes têm comportamentos diferentes, não somente em função da predisposição genética ou do ambiente em que vivem, mas por terem recebido uma educação diferenciada; educação essa que tem as suas raízes numa colectividade, denominada Cultura.
Deste modo, conclui-se que é a Cultura que determina verdadeiramente a diferença de comportamento entre os homens. O Homem age de acordo com os seus padrões culturais, logo ele é o resultado do meio em que interage/socializa. Logo, se os padrões culturais divergem de sociedade para sociedade, a Cultura também varia.

Por Helena (Com base na obra Cultura, Um conceito Antropológico, de Roque Barros Laraia)

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Continuação da Teoria do Culturalismo

Como lemos nos post anterior, o aspecto da transmissão cultural é um pilar muito importante nesta teoria que tem por premissa básica que uma determinada cultura impõe um determinado pensamento aos Homens nela inseridos.A cultura condiciona o comportamento psicológico do indivíduo, a sua maneira de pensar, a forma com percebe o que o rodeia e como extrai,organiza e assimila a informação daí proviniente.Neste sentido, foram significativos os trabalhos de Ruth Benedict, realizados
na década de 1930, sobre os índios pueblo do sudoeste dos Estados Unidos - os
quais, apesar de imersos num meio físico semelhante ao das etnias
circunvizinhas, raciocinavam de forma muito diferente diante de problemas
idênticos.
Margaret Mead analisou principalmente a importância da educação na formação
da personalidade adulta. Ralph Linton e Abram Kardiner, por sua vez, expuseram o
conceito de personalidade de base, que consistiria num mínimo psicológico comum
a todos os membros de uma sociedade.


" A análise da cultura realizada a partir da noção de pattern, de "configuração", de "perfil", foi por eles sistematizada(...), cujos trabalhos vieram mostrar a descontinuidade entre as culturas e a relatividade das formas culturais"

                                     Valade, Bernard (1995). "Cultura". in Tratado de Sociologia




Os homens não nascem com cultura, sofrem um processo de endoculturação ou inculturação- ajustamento das nossas formas de comportamento inato ou biologicamente determinado às práticas culturais estabelecidas no nosso grupo.
Ralph Linton aprofundou a relação estreita que existe entre a personalidade de um indivíduo e a cultura da sociedade a que pertence. Como escreve em 1936: " A cultura (...) só existe no espírito dos indivíduos que formam uma sociedade. As características que possui advêm-lhe das personalidades desses individuos e da interacção dessas personalidades. Inversamente, a personalidade de cada indivíduo é elaborada e funciona em permanente associação com a cultura da sociedade"                     Valade, Bernard (1995). "Cultura". in Tratado de Sociologia



Para a escola culturista, a cultura é constituída por um sistema de comportamentos aprendidos e transmitidos numa determinada sociedade que modela a personalidade dos indivíduos.
Ao mesmo tempo, é também formada pelo resultado material (os objectos manifacturados) desses comportamentos. Nesta concepção de cultura, um objecto só tem valor se tiver um sentido, sendo a cultura um conceito abstracto. A realidade concreta não é senão aquela dos comportamentos dos indivíduos que são por eles apreendidos.


Por Beatriz





Teoria do Culturalismo - Margaret Mead e a Transmissão cultural

A Teoria do Culturalismo surge com Ruth Benedict, Ralph Linton, Abram Kardiner e Margaret Mead (1901-1978), cujo trabalho é relevante nesta introdução à teoria. Margaret Mead aprofunda o seu trabalho principalmente quando decide orientar as suas investigações para a maneira como um indivíduo recebe a cultura e  as consequências que isso acarreta na formação da sua personalidade.
É portanto,o processo de transmissão cultural e de socialização da personalidade que Margaret Mead decide colocar no centro das suas reflecções e dos seus trabalhos.O seu objectivo seria analisar diferentes modelos de educação tentando compreender o fenómeno da inscrição da cultura no indivíduo e explicar aspectos dominantes da personalidade devidos ao mesmo processo de inscrição. A sua investigação conduziu-a à Oceânia, a três sociedades na Nova Guiné ( os Arapesh, os Mundugomor eos Cambuli). Através dos casos estudados mostra que as pretensas personalidades masculina e feminina que se têm por universais, porque consideradas de origem biológica, não existem conforme as imaginamos em todas as sociedades. Mais ainda, certas sociedades têm um sistema cultural de educação que não se consagra a opor os rapazes e as raparigas no plano das personalidade.
Entre os Arapesh, tudo parece organizado na pequena infância para fazer com que o futuro Arapesh, homem ou mulher, seja um ser delicado, sensível,prestável, enquanto que, entre os Mundugomor , a consequência do sistema de educação é antes suscitar a rivalidade, e até mesmo a agressividade, tanto que entre os homens como entre as mulheres, e ainda nos dois sexos.
Na primeira sociedade, as crianças são acarinhadas sem distinção de sexo; na segunda, são duramente educadas, porque são filhos não desejados, sejam rapazes ou raparigas.
As duas sociedades produzem, através dos seus métodos culturais, dois tipos de personalidade completamente opostos. Em contrapartida, têm um ponto em comum: não distinguindo entre "psicologia feminina" e "psicologia masculina", não engendram personalidade especificamente masculina ou femenina. Segundo a concepção habitual na nossa sociedade, o Arapesh, homem ou mulher, parece-nos dotado de uma personalidade predominantemente feminina, e o ou a Mundugomor de uma personalidade predominantemente masculina, ainda que apresentar factos nestes termos não passe de um contra-senso.
Inversamente, os Chambuli, o terceiro grupo, pensam como nós que homens e mulheres são profundamente diferentes na sua psicologia. Mas, ao contrário de nós, estão persuadidos de que a mulher é, por " natureza" , empreendedora, dinâmica, solidária com os membros do seu sexo, extrovertida; e que o homem è, em contrapartida, sensível, menos seguro de si, muito preocupado com a sua aparência, tendente a invejar os seus semelhantes. É que, entre os Chambuli, são as mulheres que detêm o poder económico e que asseguram o essencial da subsistência do grupo, ao passo que os homens se consagram a sobretudo a actividades cerimoniais e estéticas, que os põem muitas vezes em competição uns com os outros.
Assim, a personalidade individual não se explica por caracteres biológicos ( por exemplo e neste caso, o sexo), mas pelo "modelo" cultural particular de uma dada sociedade que determina a educação da criança. Desde os primeiros instantes de vida, o modelo impregna o indivíduo, através de todo o sistema de estímulos e de interditos, formulados ou não explicitamente, o que o leva, uma vez adulto, a obedecer de modo inconsciente aos princípios fundamentais da cultura. Foi a este processo que os antropólogos deram o nome de "inculturação" . A estrutura da personalidade adulta, resultante da transmissão da cultura através da educação , será em princípio adaptada ao modelo da cultura em causa. A anomalia psicológica, presente e estigmatizada em qualquer sociedade, explica-se do mesmo modo, não em termos absolutos (universais) mas em termos relativos, como sendo a consequência de  uma inadaptação do indivíduo dito "anormal" à orientação fundamental da sua cultura ( por exemplo, o Arapesh egocêntrico e agressivo ou o Mundugomor delicado e altruìsta). Existe, portanto , uma ligação estreita entre modelo cultural , método de educação e tipo de personalidade dominante.        
Por Beatriz 

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A Teoria da Cultura segundo a Ontognoseologia (Parte I)


 A Ontognoseologia engloba a teoria da cultura. Segundo a Ontognoseologia, numa união entre valores e as várias categorias de objectos, são criados os objectos culturais. Na cultura o estudo do objecto não é em ser, mas sim em dever ser. O homem aqui deve ser considerado na sua posição de ser criador e, se age por valores, é aquele ser que deve ser, que o seu espírito desenvolve sempre algo novo ou possui a capacidade de síntese, instaura novos objectos e formas, manipula a natureza e constrói novas formas de conhecer. Do ponto de vista da natureza, o homem é um ser e do ponto de vista da cultura, o homem deve ser. Assim, ele é o único ente que é e deve ser ao mesmo tempo.
                O homem é aquele que, sobre o mundo natural, constrói o mundo da cultura, que possui espírito, portanto, valor e é livre de inovar através das escolhas feitas e de valores adquiridos. O dever ser do espírito humano pode ser visto como intencionalidade da consciência, numa projecção de valores onde por erros e acertos da história, o homem cria a sua cultura. Na vida social, palco da cultura, determinados valores acabam por fugir do carácter pessoal, são valores que se cristalizam adquirindo carácter ontológico, exemplificados aqui como: direito à vida, igualdade perante a lei, etc. Esses valores vão-se incorporando às leis e à Ética, ao Direito, e são intitulados como Direitos Universais do Homem.
                Segundo a Ontognoseologia, entende-se por cultura toda a acção e pensamento humano que se realiza na história e que está também totalmente ligada à tradição que o espírito herdou até ao presente. Assim, aquilo que o homem recebeu dos seus antepassados em termos de reflexão e de produção material moldou os seus valores, o que liga directamente a história com a axiologia (a axiologia é o principal estudo no campo da cultura). Pode dizer-se então que a história e a ética estão correlacionadas directamente com a cultura.
                Toda a actividade humana está ligada à experiência histórica através dos tempos. Nesse sentido a história revela que os homens tentaram manter certas normas e costumes e que constituem uma tradição cultural. Esses costumes baseados em valores são valiosos. Aqueles que os homens mantiveram são bens valiosos adquiridos e há aqueles bens que ainda estamos por adquirir, esses só serão possíveis através de novas experiência histórico-culturais. Para o espírito atingir tais bens, é-lhe necessário o mínimo de liberdade. Nesse sentido, uma colisão entre bens adquiridos e valiosos envolveriam a ética e o direito. A ética a defender a liberdade criadora do espírito e o direito como o regulador da possibilidade de liberdade através da tradição e do poder. Os valores nascem da subjectividade da pessoa humana que é entendida como objecto voltado para o dever ser. A subjectividade, pela experiência cultural, entra em contacto com os outros homens e isso faz com que os valores passem pela selecção da intersubjectividade e respeito pela dignidade do próximo. Nessa união entre os indivíduos forma-se a cultura, que é a razão da vida do homem e esse é o modo mais natural de se ver a cultura humana.
                Essa cultura é composta por uma rede de bens culturais e esses bens possuem uma estrutura específica. São compostos de um ou mais valores e dividem-se em suporte e significado. O suporte pode ser material, enquanto que o significado é a parte que o material remete. Uma moeda possui um suporte de metal mas o seu valor significa algo além do próprio material.
A cultura é produzida pelos indivíduos, em cada acção ou pensamento individual, mas em consequência do grupo de indivíduos, torna-se um bem colectivo. Um traço essencial da cultura é a liberdade, tanto que o estudo da ética torna-se de grande importância para o entendimento do desenvolvimento cultural. A cultura não avançaria se não fosse a liberdade de cada indivíduo de desenvolver uma acção; claro que o indivíduo possui a liberdade de agir de forma inovadora ou tornar-se submisso ao passado da tradição herdada ou das inúmeras experiências que foi capaz de produzir antes. Mas não se deve aqui considerar o tradicional e o que está para se feito de novo como dois pontos fixos. Há uma graduação e o abandono total de valores não é possível. A procura de novos valores e bens anda de mãos juntas com o tradicional sendo esse um ponto seguro caso a nova experiência não atinja os resultados almejados.
                Todo o processo cultural, onde se funda a sociedade, acontece porque existem dois factores: um mundo da natureza e o mundo da cultura já previamente dado. Assim, a cultura transcende sempre o natural através da acção de cada indivíduo livre. Nessa acção, incluímos os elementos morais necessários ao dever ser do homem e que ao mesmo tempo o faz agir como indivíduo e como uma parte de um todo. Todo o valor faz com que as profissões que mais gostamos (como parte individual) impliquem um ganho social (colectividade). Do indivíduo para a sociedade, encontramos vários modelos ideais da pessoa humana:

“ (…) O homem teorético, dominado pelo valor da verdade; o homem económico, absorvido pela estimativa do útil; o homem estético, atraído pelo valor do belo; o homem social conduzido pelo valor do amor; o homem político, determinado pelo valor do poder; e por fim o homem religioso, embebido no valor santo”

(REALE, M. Introdução à Filosofia, 2ª ed; São Paulo: Saraiva, 1989; pág 182)

Nesses valores, vários outros se encontram numa hierarquia de subordinação valorativa. Ao unir essa hierarquia de valores com a história das civilizações conseguiremos desvendar os vários ciclos de cultura através do tempo onde cada modelo humano instaura uma cosmovisão específica. Cada civilização possui um ciclo de vida onde cada modelo humano prevalece. Assim, o tempo histórico entendido filosoficamente mostra-nos os pressupostos axiológicos de cada momento da civilização. No conhecimento civilizatório não podemos deixar de tentar entender a influência de uma civilização noutra civilização. Podemos dizer que nos dias de hoje nos encontramos num momento de grande interligação cultural e de troca de experiências.

Por Rita.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Teoria da Cultura de Massa

A expressão cultura de massa, posteriormente trocada por ‘indústria cultural’, foi criada com um objetivo específico: atingir a massa popular, transcendendo toda e qualquer distinção de natureza social, étnica, etária, sexual ou psíquica. Todo esse conteúdo é divulgado por meios de comunicação.

Antes do aparecimento da cultura de massa, havia inúmeras configurações culturais:
-a popular, em contraposição à erudita;
-a nacional, que entrelaçava a identidade de uma população;
-a cultura no sentido geral, definida como um conjunto histórico de valores estéticos e morais;
-e tantas outras culturas que produziam diversificadas identidades populares.


Mas, com o nascimento do século XX e, com ele, dos novos meios de comunicação, estas modalidades culturais ficaram completamente submergidas sob o domínio da cultura de massa. Veículos como o cinema, o rádio e a televisão, ganharam notório destaque e dedicaram-se, em grande parte, a homogeneizar os padrões da cultura.
Como esta cultura é, na verdade, produto de uma actividade económica estruturada em larga escala, de estatura internacional, hoje global, está inevitavelmente ligada, ao poderoso capitalismo industrial e financeiro. A serviço deste sistema, oprime incessantemente as restantes culturas, valorizando somente os gostos culturais da massa.
Esta cultura é hipnotizante e indutiva. É apresentada ao ser humano de tal forma, que se torna quase inevitável o seu consumo, principalmente se a massa não tem o seu olhar e a sua sensibilidade educados de forma apropriada.
Com os apelos desta indústria, personificados maioritariamente na publicidade, naquela que se concentra no sensacionalismo, é quase impossível resistir aos sabores visuais do montante de imagens e símbolos que inundam a mente humana o tempo todo.
É este o motor que move a indústria cultural e que corrompe as mentalidades pouco preparadas, nomeadamente a das crianças que tomam a publicidade como exemplo.
É necessário, acima de tudo, mudança de comportamentos e de formas de pensar.


Por Susana.

Teoria organizacional de cultura


Servindo-se da teoria organizacional, uma cultura define-se por um modelo de pressupostos básicos, que determinado grupo tem inventado, descoberto ou desenvolvido no processo de aprendizagem para lidar com problemas de adaptação externa e integração interna (Edgar Schein). Alguns dos elementos que constituem a cultura organizacional podem ser os valores, rituais e cerimónias, Histórias e mitos, Tabus, Normas, Comunicação, entre outros. Aplicando esta teoria a um exemplo concreto, podemos afirmar que, Portugal apresenta uma cultura organizacional, uma vez que vários aspectos da nossa cultura foram desenvolvidos em função de obstáculos que surgiram. Um dos exemplos que posso frisar é o cantar alentejano, parte integrante da nossa cultura, tanto a nível regional como nacional, criado para aligeirar o árduo trabalho agrícola e também para compassar o trabalho desenvolvido, para que este fosse regular e por sua vez mais rápido e eficiente. Naturalmente, a cultura organizacional está em constante formação e aperfeiçoamento, adaptando-se às alterações no meio ambiente e aos distintos problemas internos; todavia, os elementos chave estáveis na vida do grupo, completamente assimilados, não sofrem alterações. Este processo de aperfeiçoamento, aplicado ao cantar alentejano, revela-se pelo facto deste continuar presente na cultura portuguesa, mesmo não mantendo o objectivo primordial, mas evoluindo para um outro, o de mostrar um pouco da regionalidade alentejana e de a preservar, contra a padronização provocada pela cultura de massas (tema que mais tarde será desenvolvido).

Por Alexandra.

Teorias Sobre a Cultura

O conceito de cultura sempre foi muito difícil de definir, de maneira que existem diferentes pontos de vista, dos mais variados campos de estudo. De tal forma, e para termos uma "definição" o mais completa possível, iremos abordar esses diferentes pontos de vista, de forma a esclarecer melhor o leitor.
Essas teorias são então:
Teoria Antropológica
Teoria do Culturalismo
Teoria Ontognoseologica
Teoria Organizacional
e Teoria da Cultura de Massa
Por Alexandra e Susana

sábado, 20 de novembro de 2010

Esclarecimento do conceito "aculturação"

        Aculturação é um termo usado inicialmente por antropólogos norte-americanos, muito útil para tratar de reflexões sobre as mudanças que podem acontecer em uma sociedade diante de sua fusão com elementos externos.
        Segundo o historiador francês Nathan Watchel, aculturação é todo fenómeno de interacção social que resulta do contacto entre duas culturas, e não apenas da sobreposição de uma cultura a outra.
        Já Alfredo Bosi em "Dialética da colonização" afirma que esse fenómeno provém do contacto entre sociedades distintas e pode ocorrer em diferentes períodos históricos, dependendo apenas da existência do contacto entre culturas diversas, constituindo-se, assim, um processo de adaptação social.
       A maioria dos autores acreditam que a aculturação é sempre um fenómeno de imposição cultural.

  Em que ficamos então? O que se passa realmente com este fenómeno social?
      Trata-se de aculturação quando duas culturas distintas ou parecidas são absorvidas uma pela outra formando uma nova cultura diferente. Além disso aculturação pode ser também a absorção de uma cultura pela outra, onde essa nova cultura terá aspectos da cultura inicial e da cultura absorvida. Um exemplo é a cultura brasileira que adquiriu traços da cultura de Portugal, da África, que juntamente com a cultura indígena formou-se a cultura brasileira.
       Com a crescente globalização a aculturação tem vindo a tornar-se um dos aspectos fundamentais na sociedade. Pela proximidade a grandes culturas e rapidez de comunicação entre os diferentes países do globo cada cultura está a perder a sua identificação cultural e social aderindo em parte a outras culturas. Um exemplo disso é cultura ocidental similar em muitos países. Mesmo assim a aculturação não tira totalmente a identidade social de um povo, crendo-se que talvez no futuro não exista mais uma diferença cultural tão acentuada como a aquela que hoje ainda se observa entre alguns países.

Mas a aculturação não tem assim tanta carga negativa. A aculturação pode ser a solução para a nossa problemática, uma vez que se um cultura que não corrompa a Declaração Universal dos Direitos Humanos, e não permite a usurpação do poder pelo Homem, essa cultura pode transmitir valores e ideologias positivas à cultura onde sucedem situações de supremacia do homem, e em que os indíviduos dessa sociedade acham quase "normal" todo o comportamente desumano, por estarem intrinsecamente "familiarizados" com o seu país/região. Um exemplo desse acontecimento é o que se passa no Camboja como já introduzimos num dos post's anteriores. Talvez a aculturação possa salvar em parte o agravamento desta e de outras situações que o ser humano enfrenta nos nossos dias.

Por Rita

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Introdução à problemática

Tendo em consideração as inúmeras teorias sobre a cultura e o mediatismo em torno destas vamos dar a conhece-las e também criticá-las, para alcançar opiniões fundamentadas com base em conhecimento e não em senso comum e na ignorância que lhe está associada. Também combateremos incoerências de modo a clarificar conceitos.
Pela defesa dos pricípios contidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, percorreremos um caminho no sentido de transparecer os limites de cada teoria e exemplificar as suas respectivas visões perante a realidade. O objectivo principal será excluir as práticas humanamente incorrectas encobertas e protegidas pelo conceito de cultura de modo a torná-las totalmente inadmissíveis de acordo com a evolução dos comportamentos e pensamentos ao longo da história da humanidade, como por exemplo:


(para continuar a ver clicar no video e seleccionar a parte 2).

Por Beatriz e Rita

Raiz etimológica da palavra "cultura"

"Cultura é uma palavra latina: cultura, com a mesma raiz de cultus (cultivo e culto), do verbo colo, is, ere, ui, ultum (cultivar), aplicado a domínios tão diversos como os campos (...) as letras (...) e a amizade. Cícero (106-43 a.C) usa a expressão sese excolere ad humanitatem ("cultivar-se, a fundo, segundo e para humanitas", tendo este vocábulo humanitas, na língua latina três significados: aquilo que faz que o homem seja um homem; a preocupação do homem pelo homem, no sentido da sua mútua vinculação - em grego, philanthropia -; aquilo pelo qual o homem se torna verdadeiramente homem, a sua formação ou educação - em grego, paideia). O mesmo Cicero e Horácio (65 - 8 a.C) referem-se à cultura animi (cultura do espírito. De onde, originalmente: cultura é a acção que o homem realiza quer sobre o seu meio quer sobre si mesmo, visando uma transformação para melhor. A associação do termo a cultus mesmo no sentido de um acto ou conjunto de actos, que exprimem uma atitude de respeitoe reverência para com algo ou alguém, julgados superiores, compreende-se assim facilmente. No Renascimento, a expressão cultura animi goza de enorme favor tendo então como meio ou instrumento principal as litterae humaniores ou humanitates, por excelência as letras greco-latinas. Como termo que se aplica às sociedades humanas e à história, cultura parece ser posterior a 1750 e surge, primeiro em lingua alemã, onde se fixa, em certos campos, à volta de 1850. Este significado universaliza-se a partir de 1871, com a publicação da obra clássica de E.B. Tylor, Primitive Culture.

Civilização. Palavra de formação relativamente moderna - excepto na forma italiana de ciuiltà que remonta a Dante (cf. Il convivio) - mas de raíz latina: ciuilis, ciuis. Segundo a etimologia, designa, portanto, a "acção de tornar civil" (...)."

Manuel Antunes em Teoria da Cultura.

Por Beatriz e Rita